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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Meus Medos Contemporâneos

Lendo o livro "Cartas entre Amigos" de Pe. Fábio de Melo e Gabriel Chalita resolvi listar meus medos contemporâneos e gostaria de saber quais os medos das pessoas que passarem por aqui. Se quiser deixe seu comentário, essa troca de idéias é muito interessante, pois o universo de cada um é uma grande surpresa.

Medo da Morte
Não tenho medo da morte, nem dos mortos (tenho medo dos vivos) e da morte daqueles a quem amo.

Medo da Solidão
Esse é meu maior pesadelo. A possibilidade de me sentir só me assusta acho que é reflexo da perda do meu pai aos 3 anos. Necessito de pessoas que façam com que eu me sinta viva. Gosto do contato, de ouvir e ser ouvida, de olhar nos olhos e tentar enxergar a alma de cada um, a essência.

Medo do Fracasso
Se tivesse medo do fracasso já teria morrido, tantas vezes fracassei quando pensava está conseguindo, tantas vezes morri na praia depois de tanto nadar, que perdi as contas. Fracasso é uma questão de ponto de vista, para mim são montanhas a serem vencidas. Resultado de tentativas que poderiam ter dado certo, mas enfim, não rolou naquela hora, eu tentei!

Medo da Inveja
Realmente disso ninguém escapa. Tão melhor seria tentar superar os outros ao invés de tentar derrubá-los. Cresci ouvindo pessoas invejosas que me olham atravessado por não conseguirem ir além do que eu sou, mesmo sendo eu um ser extremamente simples que procura ver as cores da vida e não o cinza. Sempre tento fazer o melhor, se consigo? bem, aí  é outra história, pelo menos tento. Essas pessoas invejosas não conseguem se valorizar e, então, passam a se ocupar em derrubar os outros ao invés de construir sua própria vida, tanto a ser feito por eles e perdem esse tempo com os outros. O inimigo do Bom é o Melhor, porque não tentar mudar o verbo desdenhar/invejar pelo verbo igualar/superar.

Medo do Envelhecimento
Esse é cruel para nós mulheres. Queria morrer aos 50 anos para não ver a ladeira descendo, enfim era esse o meu pensamento mas agora que os 50 se aproximam quero ir até onde a lucidez permitir, se essa for a vontade do meu Criador. Só peço a Ele que não me deixe sofrendo aqui na terra em total dependência, seria terrível para o meu espírito tão inquieto fica inerte e dependente.

Medo das Paixões
Bom essa é difícil. Comecei a namorar meu atual marido quando tinha 16 anos e estamos casados até hoje, isso conta 29 anos de convívio, sendo que 23 anos de casada, muitas alegrias, tempo de fartura e nem tanto, tempo de brigas e reconciliações, tudo como um casal normal. Acho que paixão é algo que se transforma em amor, companheirismo, necessidade da pessoa amada. Não sei como seria minha vida sem ele apesar de nossas divergências, ele é óleo e eu sou água, ele é terra e eu sou céu. Segundo ele eu não passei na fila da Razão quando nasci, fui duas vezes na da Emoção, mas é pura intriga, eu me acho racional demais, porém concordo que emoção ocupa um bom espaço.


Medo da falta de sentido na vida
Por esse medo já passei várias vezes. Isso ocorre sempre que eu quero ir por um caminho e a vida me leva para outro. Ficar em casa, sem fazer nada que preencha o espírito, é um fator que me deixa sem sentido de existência. Querer que eu me limite a ser uma "dona de casa" é muito redutor para mim. Mas, ninguém me obrigou a fazer isso, a vida me levou para esse caminho quando fiz outras escolhas. Ter filhos para mim é uma felicidade indescritível, lembro da gravidez, do nascimento (nunca me senti mais feliz do que quando tive um filho pela primeira vez nos braços, acho que por isso repeti 3 vezes, rsrs) mas ter que ficar em casa cuidando deles é um preço muito alto, porém no momento tem que ser assim (nessas horas só com dinheiro se resolve, infelizmente), mas eles estão crescendo e menos dependentes, aí poderei realizar os meus sonhos.

Outro medo que não está listado no livro:

Medo da Maldade Humana
O prazer mórbido de ferir o outro, de diversas formas, não só fisicamente. Os requintes de crueldade, a falsa ilusão de poder que emana da força. Onde estava a força dos traficantes ao serem presos (se esconderam atrás de geladeiras, borraram as calças - Cadê o poder?).
Falsa porque é transitória e diminui mais o agressor do que o agredido. A maldade que é feita com o próximo retorna para seu ponto de partida. É a lei do universo. Causa e Efeito. Acredito que tudo está intrinsecamente ligado, afinal segundo um físico  (física quântica), que não recordo o nome agora, somos energia e não matéria (há controvérsias) e aquilo que atraímos para nós já está feito no universo. É uma questão de escolha se você quer energia boa ou ruim. Se ele está certo? quem vai saber?
Eu acredito no poder do pensamento positivo e do poder de nossas escolhas, porém muitas vezes somos atingidos pelas escolhas dos outros.
O Antigo Testamento (não gostava de ler) traz muita punição, muita desgraça, um Deus vingativo que exigia holocausto.
Muito diferente do Deus em quem eu acredito, porém não sei se li ou ouvi alguém dizer (minha cabeça está tão cheia de informações ultimamente que as idéias estão embaralhadas - preciso descansar um pouco, meditar para colocar as idéias em ordem) que os holocaustos que existiam no Antigo Testamento serviam para que as pessoas percebessem que seus erros atingiam um inocente, ou melhor, um inocente pagava pelos seus erros.
Mas a espécie humana prefere, sempre, interpretar de forma mais prazerosa para si e comete erros e depois sacrifica alguma coisa ou alguém para se redimir, e aí, qual a lição? Deus precisou mandar seu filho amado para que fosse o último sacrifício de um inocente, quem sabe assim a humanidade compreendesse a mensagem. E, então? será que compreendemos?


terça-feira, 27 de julho de 2010

Resenha capítulo 7 - O MEDO DO DESCONHECIDO

Gareth Morgan retrata no capítulo 7, sob o título “Explorando a Caverna de Platão: As Organizações vistas como Prisões Psíquicas”, do livro “Imagens da Organização” publicado pela Editora Atlas S. A. São Paulo, em 1996, ilustrado pela metáfora da prisão psíquica nos revela que, o ser humano tem medo do desconhecido preferindo ficar em condições inóspitas ao ter que se lançar em busca do inimaginável.
Fonte: cotacota.com.br

O autor cita Sócrates e seu discípulo Platão por meio da alegoria do “mito da caverna” para ilustrar como os seres humanos podem se tornar prisioneiros de seus medos e incertezas; como podem preferir viver num ambiente hostil e não se lançar ao desconhecido, que consideram mais assustador do que a realidade dura com a qual estão acostumados.

Se lhes fosse permitido sair e conhecer novos horizontes eles não aceitariam e, até consideraram maluco um dos membros que ousou sair e perceber que muito mais de vida havia fora da caverna do que eles poderiam imaginar. Que aquelas condições eram sub-humanas e eles poderiam viver de forma prazerosa, porém os que estavam na caverna não acreditaram e consideraram absurdo aqueles relatos e hostilizaram aquele que antes era um parceiro.

Já o que “ousou” sair não poderia mais viver entre eles, pois não conseguiria suportar aquela prisão sabendo o que poderia desfrutar lá fora, teria que escolher entre se aventurar e aproveitar o sabor do conhecimento e a liberdade que isso o trouxe ou voltar a viver prisioneiro de seus medos e apenas sonhar com o que poderia ter vivido do lado de fora da caverna. A simbologia dessa escolha nos mostra a filosofia, que é o amor ao saber, a procura inconstante por respostas que nunca são totalmente respondidas.

De escolhas que trazem renúncias e de renúncias que trazem vitórias. A diferença entre o ilusório, as aparências e o que é real, o conhecimento da verdade. Muitos preferem viver na ignorância para não se expor a situações das quais não se acham preparados para enfrentar. Nas organizações não é diferente, muitos indivíduos vivem das aparências, de usar máscaras para se proteger de suas reais atitudes e pensamentos. Deixam de galgar novos postos, novos cargos e novos horizontes por medo, sempre o medo do desconhecido falando mais alto do que a racionalidade do seu ser.

Gareth cita o exemplo da indústria norte-americana que ficou prisioneira do seu próprio sucesso, não percebendo que as necessidades dos consumidores mudam com o passar do tempo e deu espaço aos japoneses, que cresceram exatamente onde as empresas americanas não conseguiram enxergar, por causa da cegueira causada pelo sucesso.

Quando Kennedy autorizou a mal fadada invasão de Cuba, que foi desde o seu princípio um erro, porém ninguém ousou ir a fundo e enxergar as fragilidades daqueles planos porque considerava seus inventores acima de qualquer suspeita, não levaram em consideração que são passíveis de falhas.

Esse sentimento de pensamento de grupo onde todos enxergam da mesma forma e não percebem as nuances dos problemas, cabendo a alguém de fora lhes mostrar o quão equivocados pode estar. É o mesmo sentimento que um escritor tem de sua obra, ele a escreve, mas não percebe os erros de ortografia, gramática e etc., porque seus olhos leem o que está no subconsciente e não o que está impresso, sendo imprescindível delegar a alguém que domine a língua fazer uma revisão completa da obra para não se incorrer em erros grosseiros depois.

Não que um escritor não saiba escrever, mas é passível de erros como qualquer ser humano e sua mente muitas vezes o condiciona a enxergar da forma que pensa e não da forma que escreve. Segundo Freud o inconsciente se revela na medida em que reprimimos nossos desejos interiores e pensamentos secretos ao tentarmos nos adaptar a vida em sociedade e seguir suas ideologias. Tanto Freud como Jung acreditavam que o passado influenciava o presente através do inconsciente, e assim buscaram meios para que os seres humanos se liberassem, através de diferentes métodos de autocompreensão que indicam como nas suas trocas com o mundo exterior estes estão, na verdade, encarando dimensões ocultas deles mesmos.

Gareth cita as neuroses de Taylor com a busca da forma perfeita de realizar qualquer atividade, desde uma simples brincadeira até chegar aos princípios da Administração Científica, da repressão da sexualidade que nos é imposta e a influência maléfica que isso causa. Cita também o historiador francês Michel Foucault que nos fala que o domínio e controle do corpo são fundamentais para controle da vida política e social.

Mostra como Frederico, o grande, transforma um grupo de bandidos em uma armada extremamente disciplinada. Já Becker nos diz que os seres humanos passam a vida toda negando que são mortais, remetendo para o inconsciente aquilo que considera mórbido. Essa ilusão que somos mais poderosos do que realmente somos é que se transforma em mola propulsora para encarar a vida e, em outros momentos, nos acorrentam.

Essas influências são levadas aos diversos meios em que vivemos: família, clubes e, também, as organizações onde trabalhamos. O Instituto Tavistock, representado aqui por Wilfred Bion, mostrou que grupos frequentemente regridem a padrões de comportamento infantil para se protegerem de aspectos desconfortáveis do mundo real. Adotando um dos três padrões de resposta: dependência; líder; emparelhamento.

Dependência do grupo em uma figura messiânica e salvadora e fuga e luta: projeção dos seus medos em um inimigo imaginário (paranóia que não deixa enxergar com clareza as reais necessidades de agir e como agir).

Nas organizações a luta interna e a selvageria da competição existente se transformam em impulsos destrutivos que se desencadeiam a partir do interior e cria uma cultura permeada de sadismo. A inveja de seus companheiros pode levar a um bloqueio na aceitação do sucesso deles, por temer não ser capaz de alcançar o mesmo sucesso. Este processo oculto pode minar a capacidade de desenvolver o espírito cooperativo do grupo. Segundo Winnicott criamos fetiches para nos dar conforto e segurança. Daí porque somos tão resistentes a mudança.

Morgan cita Jung, Robert Denhardt e Weber para nos falar das armadilhas do subconsciente humano. Jung criou a interação dos contrários, esquema utilizado por Ian Mitroff e outros para analisar estilos gerenciais e de tomada de decisão e para desenvolver abordagens dialéticas no planejamento e na tomada de decisão que tentavam conciliar ponto de vista rivais. O mesmo esquema também foi utilizado por Ingalls como fundamento para uma análise junguiana do uso e direção da energia humana em organizações e por Myers e Briggs para o desenvolvimento de um teste de personalidade que apresenta inúmeras aplicações gerenciais, dentre outras utilidades.

Sempre buscamos no passado inspiração para viver o presente. Conforme Ian Mitroff somos todos primitivos de coração, reproduzindo relações arquetípicas para dar sentido aos dilemas fundamentais da vida. Se para os filósofos a liberdade é a visão do conhecimento, para os psicanalistas a liberdade é o conhecimento do inconsciente para criar um mundo melhor e interagir de forma mais completa com o ambiente e transformá-lo em algo mais agradável e seguro aos nossos olhos.

Assim como a filosofia não nos traz respostas conclusivas às metáforas sobre o inconsciente nas organizações não nos traz explicações claras e nem controle sobre esse aspecto do ser humano tão presente e tão insondável. Podemos tentar conhecer melhor esses aspectos no sentido de não tornarmos as organizações cegas, mas não podemos controlá-los de forma racional.

Este capítulo é bastante útil para administradores, estudantes e todos os seres interessados na compreensão do subconsciente e seus reflexos nas organizações.
Seu autor, Gareth Morgan é conhecido por sua contribuição ao desenvolvimento das ciências sociais. É autor de numerosos artigos e obras. É membro do conselho editorial de vários periódicos, conferencista e professor de Ciências da Administração na Universidade de York, em Toronto, Canadá.

Trabalho apresentado a disciplina Teoria Geral das Organizações

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