quarta-feira, 14 de julho de 2010

Imagens da Organização - Gareth Morgan - Resenha cap. 2 - ORGANIZAÇÕES MECANIZADAS:

 Imagens da Organização - Gareth Morgan
Resenha cap. 2 - ORGANIZAÇÕES MECANIZADAS



Gareth Morgan, no livro “Imagens da Organização”, publicado pela Editora Atlas S. A. São Paulo, em 1996, retrata no capítulo 2, sob o título “A mecanização assume o comando – As organizações vistas como máquinas”, a burocratização das organizações, a mecanização, suas origens, teorias e as conseqüências deste processo, nos convidando a uma reflexão sobre o tema.

O capítulo se inicia fazendo uso de uma metáfora, para melhor ilustrar suas ideias e perspectivas. Nela é feito o paralelo entre o trabalho artesanal de um velho chinês e outro, proposto por Tzu-gung, que era mecanizado, utilizando uma bomba d´água: percebemos que o primeiro, pela sua simplicidade, engrandece quem o faz. O outro, pelo retorno que proporciona, mostra que é economicamente mais viável.

Pergunta-se: qual dos processos estará correto? O artesanal que tem todo o brilho de uma criação, onde seu criador se enxerga e se vê engrandecido pelo resultado alcançado, porém não consegue resultados em grande escala? Ou o mecanizado? que é mais produtivo, porém o seu criador não se vê no processo, delegando as máquinas o mérito do resultado?

Sabemos que, cada processo tem seu momento de utilização e seu grau de importância. O velho chinês havia aprendido com seu professor que, ao agir como máquina transformar-se-ia numa delas e perderia a simplicidade da sua alma. Vimos isso demonstrado no filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, onde o ser humano, transformado numa engrenagem com tarefas repetitivas, passa a funcionar como tal, mesmo ao término do seu turno.

O autor relata que naquele momento histórico, início da Revolução Industrial, com a invenção da máquina se fez necessário esse ajustamento. Cremos que não tão cruel como foi feito, mas era preciso transformar artesãos em operários e isso exigiu uma divisão de tarefas, um treinamento de como operar as máquinas e algumas consequências, por vezes até danosas, se apresentaram: êxodo da comunidade rural para centros urbanos, degradação geral do ambiente e, principalmente, a agressão da racionalidade sobre o espírito humanístico, onde a ênfase estava na produção, e o ser humano era apenas parte do processo.

Os artesãos foram engolidos pelo processo produtivo em grande escala e se viram forçados a se tornarem operários, juntamente com suas famílias. Os donos das fábricas, por sua vez, viram que precisavam de muitos operários para o funcionamento das máquinas e que, precisavam treiná-los para que produzissem de forma correta e rápida, aumentando assim os lucros, mesmo que esse aumento não repercutisse nos salários dos seus empregados (mais-valia).

Morgan nos diz que, a origem da organização mecanicista remota aos tempos das construções das pirâmides, impérios, Igrejas e armadas, porém com a invenção da máquina, esse processo ficou mais enraizado. Era preciso que houvesse uma adaptação ao seu manuseio, ou seja, as suas exigências. Percebe-se que cada época teve suas teorias aplicadas de acordo com a necessidade do momento, muitas delas já existentes, porém são adaptadas ao contexto que se encontram.

Nesse contexto o autor fala que foi utilizado à divisão do trabalho, pregado pelo economista escocês Adam Smith (fundador da economia moderna) no livro “A Riqueza das Nações” em 1776. Houve também a influência do militarismo, com o exemplo de Frederico, o Grande, da Prússia quando transformou um exército em autômatos.

No capítulo também encontramos relato que Eli Whitney demonstrou publicamente, em 1801, como as armas poderiam ser montadas a partir de pilhas de partes intercambiáveis, era a produção em massa. E ainda em 1832, Charles Babbage, publicou um tratado com enfoque científico da organização e da administração e enfatizou a importância do planejamento e da divisão do trabalho.

O sociólogo alemão Max Weber, visto como o mais importante, sintetizou essas ideias vendo que, a burocratização era um fenômeno que rotiniza os processos, exatamente como as máquinas rotinizam a produção. Ele se preocupava com as conseqüências sociais que o excesso, ou disfunções da burocracia, poderiam ocasionar sobre o lado humano, corroendo seu espírito e a capacidade de ação espontânea.

Pode-se perceber que, apesar das contribuições benéficas do processo de mecanização das organizações, sempre o homem está desvirtuando-o em busca de lucros incessantes ou poder. É como comparar a dinamite inventada por Alfred Nobel, para a engenharia civil, ou o avião, de Santos Dumont, para a navegação aérea, utilizados para a guerra e a destruição em massa dos seres humanos, causando depressão em seus inventores que lhes custaram a vida.

Os teóricos clássicos, o francês Henry Fayol, o americano F. W. Mooney e o inglês Cel. Lyndall Urwick focalizaram suas atenções ao planejamento da organização total, os administradores científicos visavam ao planejamento e à administração de cargos individualizados. O autor diz que as ideias desses teóricos são reforçadas sob o disfarce de administração moderna, porque na cabeça dos planejadores está enraizado o pensamento mecanicista, e não estão conscientes de outras formas a serem utilizadas. Hoje, percebemos que muitos planejadores continuam com a mesma linha de pensamento e não enxergam que existe uma amplitude maior do que o ambiente interno da empresa.

Já na Administração Científica seu principal representante foi Taylor, também conhecido como o “maior inimigo do trabalhador”, muito criticado, com uma mente um tanto perturbada, porém provou ser um dos mais influentes. Os princípios da sua administração científica são base para o modo de trabalhar desde a primeira metade deste século e, em muitas situações, predominam até os dias de hoje. Taylor estudava a melhor forma de fazer cada tarefa, reduzindo tempo, material e esforço humano. Segundo ele, tudo o que deve ser pensado é função dos gerentes e planejadores e, tudo que deve ser feito, é função dos operários.

É demonstrado pelo autor que o aumento de produtividade tem sido atingido com frequência através de alto custo humano, reduzindo muitos trabalhadores a autômatos, como fez Frederico, o Grande, com seus soldados há mais de 150 anos. Evidenciando que Henri Ford ao estabelecer sua linha de montagem para produzir o modelo Ford-T, a rotatividade subiu 380% num ano. Esses princípios difundidos pelo Taylorismo agora são encontrados em inúmeras atividades e até mesmo em nossas vidas pessoais quando racionalizamos e dividimos as tarefas de forma a executá-las de maneira mecanicista e modelamos nossos pensamentos e ação para se conformarem com pensamentos e ideias preconcebidas.

Novamente se têm a divisão de tarefas enraizada nas organizações, porém em ambientes estáveis isso se faz altamente necessário e benéfico, levando-se em consideração os devidos ajustes para não transformar o ser humano em robô. Ambientes como Call Center, Fast Food buscam mão de obra com baixa escolaridade para suportar a rotinização dos processos, que são considerados alienantes.

A teoria clássica e a administração científica foram vendidas como “a melhor forma de organizar”, porém não é bem assim, a história prova que existem muitas falhas. É preciso levar em consideração, de forma bastante aprofundada, o papel de cada processo e a importância que esses processos têm diante do todo, ou seja, no tocante ao empregado: qual a importância dele no processo e, o que precisa ser melhorado para obter o melhor retorno para a organização e para o próprio colaborador. Ele ainda fala que modelos padronizados engessam as organizações que não são capazes de ter uma visão holística, do todo, e sim apenas fragmentada, o que compromete as tomadas de decisões.

Definir responsabilidades de maneira clara e precisa tem a vantagem de fazer com que cada um saiba aquilo que dele é esperado. Mas, isso também o faz conhecer aquilo que não é esperado dele. Herança da mecanização também é encontrada na apatia, falta de orgulho e descuido presentes no ambiente de trabalho. Nas organizações burocráticas as pessoas não são encorajadas a pensarem ou questionarem o que estão fazendo, ao contrário, são vistas como problemas quando assim o fazem. Na Ambev, segundo um estudo de caso debatido em sala de aula, por exemplo, a divisão de serviços operacionais não quer pessoas inovadoras e sim, pessoas que cumpram determinadas rotinas, para que tudo ocorra como o planejado.

Os enfoques mecanicistas da organização, tão popular, devido à sua eficiência no desempenho de certas tarefas, mas também devido a padrões de poder e controle, tão inato do ser humano, onde o sentimento de domínio do outro é tão buscado, tem muito que se modernizar. Os novos processos com base tecnológica fazem com que outros princípios organizacionais estejam assumindo uma importância crescente, como base para uma nova visão de administração nos tempos atuais.

É latente que hoje muitos setores e muitas organizações, apesar da luta operária de todos estes anos, ainda têm e praticam a mesma visão do início da Revolução Industrial, não diferenciando seus colaboradores de suas máquinas. Fayol e outros de sua época tiveram sua importância ao desenvolverem os processos de planejamento, organização, direção, coordenação e controle, porém focavam o ambiente interno.

Taylor deu uma grande contribuição e apesar das inúmeras críticas enxergamos que desenvolver tarefas de forma mais produtiva com o menor esforço físico é algo bastante inteligente e aceitável, porém como toda ideia tem dois lados, o fato de dividirem as tarefas de forma tão fragmentada fizeram com que a automação dos empregados ocorresse. O desvirtuamento de sua ideia inicial, a busca pela melhor forma, levando a mais valia é que mostra o quanto o homem é o explorador do próprio homem. Aí que encontramos o lado ruim da mecanização.

Todos os “erros” passam pela visão do lucro excessivo que as organizações tanto buscam, esquecem de ver seus operários como a parte mais importante do processo e acreditam que eles são apenas peças substituíveis. Nesses tempos modernos espera-se ter empresas que utilizem burocracias para melhor controle das tarefas, porém não se esquecendo de ter sempre uma visão holística e humanística de todo o processo. Minimizando os futuros “erros” que, com certeza, existirão e valorizar mais o quesito motivacional para os empregados que sempre que puderem escolher não aceitarão o processo mecanizado, ocasionando alta rotatividade.

Finaliza-se com uma visão de que todo processo precisa ser adaptado a realidade de cada organização, buscando sempre o melhor caminho, envolvendo empresa e empregados no desenvolvimento racional das tarefas exigidas.

Este capítulo em particular é bastante útil para estudantes de universidade em seus primeiros contatos com a administração fornecendo uma visão bem clara do que foi a mecanização e o que ela representa nos dias de hoje nas organizações, e o quanto ainda é utilizada nesses tempos modernos. É também, um verdadeiro dispositivo de pesquisa para diretores, pesquisadores e estudantes. Seu autor, Gareth Morgan é conhecido por sua contribuição ao desenvolvimento das ciências sociais. É autor de numerosos artigos e obras. É membro do conselho editorial de vários periódicos, conferencista e professor de Ciências da Administração na Universidade de York, em Toronto, Canadá.

Trabalho apresentado a disciplina de Teoria Geral das Organizações como atividade complementar

20 comentários:

  1. Célia/Rubens,
    Estamos pedindo a¨Deus¨, em horação, que tão logo tudo isso passe e que Paulo, esteja bem.
    Adaíres e Edmilson.

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  2. Célia/Rubens,
    Estamos pedindo a¨Deus¨, em horação, que tão logo tudo isso passe e que Paulo, esteja bem.
    Adaíres e Edmilson.

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  3. GOSTEI DA RESENHA A PARTIR DAI8N ENTENDI UM POUCO SOBNRE O MUNDO MECANIZADO

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  4. Sr. "Anônimo" se puder ser mais específico terei prazer em esclarecer. Obrigada pelo comentário.

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  5. Bom como não esclareceu, creio que se refere ao fato de mecanizarmos nosso dia a dia, certo? dividimos nossas tarefas de tal forma que nada mais é do que uma mecanização de nossas vidas (mundo mecanizado).

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  6. Respostas
    1. Olá Léo. Realmente não fiz os outros, mas pretendo fazer, está em meus planos concluir a resenha dos capítulos só não sei precisar datas pq estou na maior correria. Último ano de faculdade e mais uma série de outros compromissos me impedem. Obrigada pelo comentário e volte sempre.

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  8. Olá Célia. Adorei a página e a forma com você expressa o conteúdo. Você está de parabéns. Muito bem explicado!
    Voltarei mais vezes. Muito obrigado!

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  9. Eu que agradeço Julio por vc ter dedicado um pouquinho do seu tempo e comentar. É sempre bom saber a opinião de quem passa por aqui. Volte mesmo!

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  10. tenho que apresentar um trabalho sobre esse tema hoje e só me passaram o tem agora você tem alguma sugestao do que eu posso dizer referente a imagens da organização em poucas palavras só enho 4 minutos para falar.

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  11. boa tarde Diana,

    Desculpe o atraso na resposta ao seu comentário, mas eu não o vi antes por estar focada na prova do Enade 2012- Adm que fiz no último domingo. (25/11/2012)
    Não entendi se você terá que falar sobre esse tema do post ou de todo livro do Gareth, mas vamos lá. Espero que ainda seja útil.
    Parte mecanicista : falar sobre os três principais Taylor, Fayol e Ford (eu, particularmente, acho que deveria dar ênfase no Taylor, mesmo sendo ele considerado um tanto maluco suas contribuições perduram nas empresas até os dias atuais, no estilo princípio de tudo mesmo).
    Caso seja de todo o livro creio que deveria, face à limitação do tempo, citar todas as teorias no estilo quadro resumo se detendo mais nas que proporcionaram maior contribuição que ao meu ver foram: adm. cient., sistemas, contingenciais e as mais recentes.
    Até já comecei a fazer um quadro resumo que publicarei depois visto que ainda não o concluí, mas consta basicamente do seguinte: teoria - ano - ênfase - concepção do homem - resultados almejados.
    Espero não ser tardia e ter contribuído. Um abraço.

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  12. Celiaaaa precisava dos outros capitulosss =(

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    Respostas
    1. Lamento Henrique no momento estou em tratamento médico para vencer uma anemia aguda. Tem do 2 ao 7, se não me engano faltou só o 8 e 9.

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    2. Lamento Henrique no momento estou em tratamento médico para vencer uma anemia aguda. Tem do 2 ao 7, se não me engano faltou só o 8 e 9.

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    3. Ola, você fez a do capítulo 8?

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    4. Lamento Emanuel, mas não fiz. A vida me levou para outros caminhos e fiquei sem tempo.

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    5. Lamento Emanuel, mas não fiz. A vida me levou para outros caminhos e fiquei sem tempo.

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  13. Celia,preciso de uma ajuda com o tema maquina, Preciso fazer um trabalho sobre ele pode me ajudar?

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  14. Parabéns pelo post, foi realmente muito útil para ter uma ideia de como começar um trabalho. Espero que você tenha superado seu problema de saúde! Abraços

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