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quarta-feira, 15 de junho de 2011

MULHERES GUERREIRAS: Cora Coralina.

MULHERES GUERREIRAS

Cora Coralina, iniciou sua carreira de escritora aos 76 anos. Muitos devem pensar que era impossível.


Cora Coralina - Fonte: paralerepensar.com.br


Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira. Cora Coralina, uma das principais escritoras brasileiras, publicou seu primeiro livro aos 76 anos de idade.

Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.


Fonte: wikipédia


Segundo Gabriel Chalita: Cora Coralina superou todas as adversidades, e não foram poucas, e "rezou a saga da mulher vitoriosa", em seu livro Cartas entre Amigos. Ediouro, 2009, pg. 14.


Transcrevo aqui DUAS de suas poesias:


"Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.

Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.

Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.



Uma estrada,
um leito,
uma casa,

um companheiro.
Tudo de pedra.


Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam

levantei a pedra rude
dos meus versos."


Do livro Cartas entre amigos.



Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.


Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.


Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.


Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.


Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
do sonho.


Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia caída e a república
que se instalava.


Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
aplicavam castigos humilhantes. 


Tive uma velha mestra que já
havia ensinado uma geração
antes da minha.
Os métodos de ensino eram
antiquados e aprendi as letras
em livros superados de que
ninguém mais fala.


Nunca os algarismos me
entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para sempre minha vida.
Precisei pouco dos números.


Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
consciência de ser autêntica.


Nasci para escrever, mas, o meio,
o tempo, as criaturas e fatores
outros, contra-marcaram minha vida.


Sou mais doceira e cozinheira
Do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.


Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.


Talvez, por tudo isso e muito mais,
sinta dentro de mim, no fundo dos meus
reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.



Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compreensão dos
rígidos preconceitos do passado.


Preconceitos de classe.
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.


A escola da vida me suplementou
as deficiências da escola primária
que outras o destino não me deu. 


Foi assim que cheguei a este livro
Sem referências a mencionar.


Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.


Nem Menção Honrosa.
Nenhuma Láurea.


Apenas a autenticidade da minha
poesia arrancada aos pedaços
do fundo da minha sensibilidade,
e este anseio: procuro superar todos os dias
Minha própria personalidade
renovada, despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto.


Luta, a palavra vibrante
que levanta os fracos
e determina os fortes.


Quem sentirá a Vida
destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.
(Meu Livro de Cordel, p.73 -76, 8°ed, 1998) 

Do site: Paralerepensar



Esta é a diferença entre o que pensam de nós e o que realmente somos. A história de Cora é triste e nem por isso serviu de limitação para a sua capacidade. Dentro de cada ser humano existe uma força imperceptível aos olhos de quem não consegue enxergar com o coração. 


Uma frase linda de Saint-Exupéry exemplifica muito bem o que não me canso de dizer: O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS. Infelizmente são poucos os que sabem enxergar, a maioria só consegue ver. A perfeira ilustração de que o preconceito e os estereótipos causam ao ser humano.

Para desgosto dos preconceituosos e míopes (nunca se ouve falar o nome dos que colocam as pedras porque são apenas: PEDRAS) a força que emana de seres guerreiros é capaz de superar todas as adversidades e, ainda mais, brilhar como nunca pelo desafio proposto. Um dia serei como Cora pois já estou juntando as pedras... Os limites estão nos outros, não em nós!

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